Em minha dualidade feminina existem a Ovelha e a Loba. Não
convivem pacificamente. Não! Vivem em eternos e intermináveis conflitos.
Alimento, demasiadamente a Ovelha e, apesar de inferior às forças da Loba, a
Ovelha bem alimentada pelos limites que imponho a ela e pelos meus medos,
domina-me. Ao dominar-me, quedo-me entregue as minhas frustrações, a minha
covardia e, por décadas levo e levarei, conforme for permitida minha existência
por aqui, a sensação da vida vivida pela metade. E assim, quedo-me alimentando
a Ovelha que sai vencedora.Sempre!A Loba amordaçada, cansada e vencida, por fim,
entrega-se, anulando a minha dualidade de espírito e carne. Mas... vez em
quando, a Loba desperta, reage e quer
mostrar a sua supremacia. A Loba quer carne! Afinal, quem é mais forte, a Ovelha ou a Loba? Aquela a quem EU mais alimentar! Mas, a quem eu devo
alimentar mais? Quem me fará mais feliz, mais completa em minha plenitude! Do
que mais preciso: a ilusão do enlevo espiritual ou a simples satisfação carnal?
Que alegria ao ver desperta, forte e dominadora, a minha Loba! A Loba desperta é plenitude! E não quer mais subjugar-se! Quer continua altiva! Sedutoramente
altiva e ativa! E eu, eu a alimentarei e nunca mais a deixarei ser subjugada!
Nunca mais! Por que a Loba me faz feliz! Completa e absoluta! Mas, contrariamente a minha vontade,
a Ovelha ressurge, e eu nada posso contra ela, e morta em vida, sigo com esta
dualidade cruel a entorpecer-me os sentidos e a consumir-me a lucidez! A Loba
vive em minhas vísceras, em meus poros, em minhas entranhas, em meus devaneios,
em minha insensatez...em cada fibra do meu coração! A Ovelha se alimenta da minha covardia... dos meus
medos... das minhas renúncias! É ela que sempre vence!
Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet
Arquivo: Fantasias 122 (Mulheres que Correm com Lobos)
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