sábado, 30 de julho de 2016

POEMA 259 - AMORES FRÁGEIS, O TEMPO DEVORA

O que restou de nós dois, apenas o espanto
de uma palavra que não se encaixa
em nenhum sentido. Desencanto?
Quebrantos em lágrimas
na alma nua, prantos.
Vinho derramado.
Reminiscências do que ficou
em rasgos de nadas
como musgos pisados.
Flauta que não toca.
Pássaro cego em voo torto não encontra ninho,
amor quebrado
perdido nas dobras de um tempo
onde o paraíso era o destino
- Este travesso menino que nos escapa -
quando mais o queremos
tal água fugidia nos dedos do tempo.
Cronos não perdoa, a tudo devora.
Amores de cristal, até o vento os quebra.
É pó. Evapora!



POEMA 258 - ALVORECER EM NOSSOS CORPOS

O dia alvoreceu em teus olhos de noite intensa
e a cálida lua adormeceu nestes teus lábios de preces.
Os albores de uma manhã intensa
tecem borboletas em teus cabelos de avelã
Despertando ais em meus suspiros!
Zangões evolados no casulo dos desejos
despertos, outra vez,
com o rosicler alvorecendo em nossos corpos.
Atravessa-me a alma um mar de poesias e enlevo.
Epifania de uma manhã que se desperta,
lânguida e morna,
numa ciranda de odores, cores e amores.
Assim somos nós: misturando noite e dia
sem tréguas nem descansos.
Desbravando noites, despertando arrebóis,
Reminiscências de uma paixão
que não se cansa e não se basta
e nos leva a uma doce exaustão
nas manhas de nossas entregas.


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

Jean Francois Michael - Si l'amour existe encore ♥



BELÍSSIMA CANÇÃO! PARA SE OUVIR, AMANDO...

sexta-feira, 29 de julho de 2016

POEMA 257 - SOLIDÃO EM MIL DISFARCES

Não emirjas, solidão
Fica no limbo a que te lancei
não emirjas!
Não te metamorfoseies em promessas vãs
Nem te disfarces de lua nua
a seduzir-me nas insones madrugada
empoemando as noites frias.
Nem te escondas nas gotículas de chuvas
a escorrer-me na face. Cansada.
Não te disfarces, solidão, em crepúsculos d'ouros
nem me tentes tal sereia desvairada.
Solidão, figura indigesta, não a quero como companheira
em noite de breu intenso. No quarto e na alma.
Não me tentes tal bacante despudorada
ou moças fáceis na calçada...
És cíclope, fundindo a fogo, os raios de Zeus,
sobre a minha cabeça. Tonta.
Prenhe de ti, solidão maldita,
que não posso abortar.
Simplesmente, por que és minha.


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

POEMA 256 - MUITO ALÉM DE VIAGENS

Quiser'eu saber das cousas de além-mar
de além-céu, de além-vida.
Plainar por mundos de belezas absurdas.
 Viajar... pra fora de mim...
Fazer de viagens, meu destino
Provar as delícias do desconhecido
e adormecer no colo das novidades.
Conhecer rincões, mares, montanhas, flores e amores...
Desbravar as artérias de uma cidade, seus encantos, seus mistérios,
seus becos, suas ruelas, seus medos...
Verter sabores na mesa e na cama
nunca dantes provados.
Apenas sonhados.
Viajar... pra dentro de mim...
despertar meus albores, aceitar meus crepúsculos
entender o deus e o demônio
que dão-se as mãos e de mim riem...
Mas me amam.
Viajar... para muito além do inimaginável
sem a pretensão de entender. Nem estar.
Apenas... viajar.


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

POEMA 255 - DO DEUS DE MIL FACES, ESCRAVA

O deus de mil faces, espreita-me,
nas ruelas e becos das minhas andanças
e cobra seu dízimo, inclemente.
O deus de mil faces
não me ama. Sou rês desgarrada, amaldiçoada.
Na sua teia, acorrentada!
O deus de mil faces
 me despreza, me odeia.
Joga-me à sorte de um pressago destino
e não me perdoa as vidas pregressas
de tantas idas e voltas. Incertas.
Não me perdoa os vis pecados, os vícios abjetos, os desejos profanos
que tanto aprazem a minha alma lasciva-mundana!
O deus de mil faces
traz tormentos a minha alma
Nega-me o éden
condena-me ao inferno.
E não me salva!
Mas, não me importa! Rendo-me a ele.
 Sou sua escrava eterna. Por eras e eras.
O deus de mil faces
não tem olhos, não tem ouvidos, não tem coração...
Não tem face.
E nem me ama.


Autora: Lavínia Andrill
Imagem: Internet


Garou - Quand je manque de toi !!!

domingo, 17 de julho de 2016

POEMA 254 - SAUDADE É GAIOLA

Você... Passarinho cantante
em minha gaiola (teu ninho).
Fotografei o teu canto, passarinho,
e ele fincou pé
no negativo do meu (des)encanto.
Teu canto ainda canta em mim, passarinho
num gorjear de distâncias e lamento.
Saudade é gaiola, passarinho. Tormento.
E o teu canto ainda canta,
e vem e vai, com o vento
deambulando saudades e vontades
em irrefutável deslembrança;
que pena, passarinho!
Somos de plumagens diferentes
e nossos vôos, solitários...
mas,
o teu canto ficou preso
na gaiola inconsútil da saudade.
Ninho que nem se fez...
Passarinho!


Autora: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

sábado, 16 de julho de 2016

POEMA 253 - ARPEJOS EM TEU CORPO

Teus desejos são-me arpejos
no teclado do teu corpo
onde ressoam acordes
tal vibrato frenético
e explodem em quasares
aos meus olhos extasiados
e meus ouvidos perplexos
aos sons dos teus desvarios.
Em mim, todos os meus cios,
em insanas ânsias, transmudados,
 já não me cabem.
Em ti, a bem aventurança
fecundando os meus rios
verdejando os meus prados.
Em nós, a dança louca do coito abençoado.
Toma-me como água a matar a tua sede
Cede para mim a tua timidez
desfaça teus medos e mergulhe
em minhas águas serenas. Talvez.
Mas, não provoque os meus ventos
se não quiseres ser tragado
pelo furacão que é-me a alma...
 talvez... tu gostes. 


Autora: Lavínia Andrill
Tela do peruano Dante Guevara

POEMA 252 - OS MEUS SILÊNCIOS SÃO DESASSOSSEGOS


Os meus silêncios são desassossegos
a cavalgarem-me nas insones madrugadas
desbravando-me as ruelas e becos e labirintos
da minha inquieta alma alada.

Os meus silêncios são astros pálidos
a refletir meus secretos anseios
mas, quedam-se em meu céu, aprisionados.
Atam-lhe pesados arreios.

Os meus silêncios tem mil vozes
a esvaírem em esquálidos desmaios
a revelar-me medos atrozes.

Os meus silêncios é dama incalma
Calam-me os lábios, amordaçam-me a língua.
Mas, não alcançam a minh'alma!


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

POEMA 251 - TEMPO DE ESTIO

O léxico, de mim se esconde.
Estranha-me, não me decifra
neste labirinto em que se perderam-me
as ideias... abstratas, fluidas,
tal qual, água teimosa a escorrer-me
pelos dedos frouxos
nas desoras irresolutas
a esconder-se no desvão
deste meu desassossego!
Em torno de mim bailam as palavras
tal gitana louca a rodopiar em desvarios,
dispersas pelo vendaval
que assombra a minha mente: útero infecundo!
Nenhuma sílaba! O verbo não se mostra!
Tempo de estio! Recolho-me em meus vazios.


Autoria: Lavínia Andrill
Tela: Jeong Hae-Kwang