quarta-feira, 15 de maio de 2019

282 - BEIJOS DE MAÇÃS


Meus escrúpulos em tuas espátulas, abandono
Em prazeres debulhados nestes teus olhos travessos
de céus sem nuvens e bonanças
Tão perdidos nas brumas do meu corpo indócil
Sob o meu alumbramento de regaços e entregas
Desvairadas, pelas avenidas do teu corpo 
Que me abraça em brumas
E mergulho ensimesmada nessas horas insanas
A espreitar o deboche da tua boca ávida e louca
A degustar-me, inconteste!
Ah! Esta tua boca com sabores de manhãs
Navego em tuas costas largas...
E naufrago nos teus beijos de maçãs!


Imagem: Internet

281 - COITO


Teu corpo, registro das minhas latitudes
Minha perdição
Em memórias na minha pele
Teus cheiros, teus suores
De mel e sal...
Eriçados poros de lamentos e gozos
Risos e marcas de dentes
Tatuagens
Inclementes quereres em pactos de carne e alma.
Corpo quer corpo. Busca sôfrega,
Cúmplices em segredos abscônditos
No profundo do verve
Almas em uno (eutu)
Universo em nós transborda loucuras
Sortilégios e promessas
Entregas e merecimentos.
Insaciáveis. Ressurgem
Em auroras sem descansos.
Corpo, carne, alma, boca, dentes, pernas e braços
Na dança do coito
A orquestra em gozo!


TELA de Framed Handmade

280 - POESIA E SENSIBILIDADES


Há uma elegância sutil em cada verso parido das entranhas em brasas de um Poeta, pois, o poetizar não carece de subterfúgios nem pudores... Poesia tem que ser prazerosa. É como degustar um saboroso vinho a escorrer deliciosamente pela boca. Ou ostras cruas com limão e molho lambão (bem baiano!). Desculpem-me, mas, Poesia não é para todos. Apenas alguns eleitos tem a sensibilidade para absorvê-la em toda a sua essência. De extrair de cada verbo, de cada substantivo, de toda palavra, de cada ponto de exclamação, significados que aos olhos dos desapercebidos são insignificantes; passam-lhes  despercebidos. É absorver cada vírgula como se absorvesse o ar que se respira... É ver em cada reticência um caminho invisível que se estende aos olhos para além do entendimento. Poesia não é para todos, não! Oh, não! Requer sensibilidades e uma certa sofisticação (linguística- desculpem-me, mas, os poetas são assim: soberbos). É ver além das traves (e das trevas) dos olhos comuns. Poesia é coisa de Poeta (este ser cem por cento sonhador que verseja em tudo!). O Poeta que escreve e o Poeta que o lê. O Poeta que escreve em êxtase e o Poeta que o lê em alinho! Ambos, Poetas! Portanto, amigos, poesia é para aqueles que trazem gravadas a ferro e fogo na alma, uma dose imensa de desassossego e uma incompreensível tristeza que gosta de se mostrar com cara de alegria... Sim! A poesia é para uns poucos! Poesia é para aqueles que renunciaram a sanidade dos comuns. Sim, poesia é coisa de loucos! Ou de soberbos (como eu). 17.12.13



Imagem: Revista ESTANTE - FNAC

quinta-feira, 2 de maio de 2019

279 - QUANDO MATEI DEUS


Deicida, confesso. Não nego.
Entre céus e infernos
Vagou minha alma
Imprecisa, incalma
Resgatei minha alma
De ti. Dos teus temíveis castigos
Não mais te pertence
Nem a ti, nem a ele
(aquele que não se nomeia)
Minha alma liberta
Só a mim pertence
Só a mim presta adoração e medo.
Alma vassala dos meus quereres
(não dos teus caprichos
das tuas imposições
das tuas crenças doentias).
Não mais o temo. Nem ti venero.
Não preciso de ti
Descobri que tu eras
Uma doce quimera
E apenas nos sonhos
Tu me existias.
Hoje, não mais.
Arranquei-te das minhas entranhas,
Para todo o sempre.
Debalde,
Continuo vazia
A deambular pela vida.
Infeliz.


Imagem: Internet

POEMA 278 - PLÁCIDO AMOR


Este amor de tantas eras, é-me tudo!
Plácido e cristalino
como nascente de rio a deslizar pela montanha
a banhar-me de frescor e me envolve por inteira! Este amor
que não se cansa e me acompanha,
nesta vida hipertímica que o destino me condenou,
entre céus e infernos, salva-me
de perdições que, por vezes,
a alma busca e se entrega... este amor,
que de mim não desiste,
mesmo quando envolta em loucuras,
perco-me em devaneios e maltrato este amor,
ele não se maltrata! Ah, este amor,
calmo e prestante,
como o amor de um poeta,
infinitas vezes, me resgata
do inferno em que mergulho, alma errante,
e não encontro o caminho. De volta
para este amor, sublime salvação...
Este amor é o que me mantém em vida,
tirem-me o ar, tirem-me tudo,
mas, não me tirem este amor!


Imagem: Internet