sábado, 19 de abril de 2014

POEMA Nº 221 - PAIXÃO PROFANA, IMARCESCÍVEL PAIXÃO

Quem há de apagar-me a ânsia insana
Deste fogo profano
A queimar-me as entranhas?
De gris vestiram-se os meus albores
E tudo se fez breu. Em mim.
Em mim, o sol adormeceu!
Ah, este amor incasto, improvável e vasto
De infinitas ânsias e tormentosas águas
Que não deságuam nem aliviam, os desejos!
Louco amor imarcescível
A tocar orquestras no silêncio profundo
Desta minha dor infinita, insana.
Profana.
Explode em cada veia e aflora pelos poros
Escorre-me dos olhos, me insaniza os sentidos!
Paixão torturante que me rouba a calma e corrompe-me a razão
Impossível calá-la no peito desfeito em solidão!
Quem há de apagar-me a ânsia insana desta paixão profana
A queimar-me as entranhas?



Autora: LavíniaAndrill
TELA: Liu Youanshow

POEMA Nº 220 - MISTÉRIOS DA NOITE...

Não há como desvendar
 mistérios que a noite esconde
Em suas negrescas entranhas...
Nem o andarilho, da lua fria, enamorado
Nem os pássaros noturnos
Nem os decaídos anjos notívagos,
Nem as sedutoras damas solitárias da incerta noite, 
Nem os incorrigíveis ébrios
Nem mesmo as inquietas estrelas
Penetram nos segredos da magistral noite.
Eu, aprendiz de poeta,
Tornei-me ébria a casar-me com a noite
Fúlgida, noiva incerta e fria!
Tornei-me pássaro noturno
E cantei-lhe doces melodias
Catei estrelas e réstias de lua
Para encantar a amante noite crua,
Dormi em seu regaço
E em seu remanso busquei albores
Mas a noite de horas imensas,
Infiel, arisca, fugidia,
Pariu-me das suas entranhas
De negrume e mistérios...
Abandonou-me
No colo do dia!





POEMA Nº 219 - NOITE SEM ALMA... NOITE FRIA.


Um vento trêmulo e frio acaricia
o denso manto da noite
expondo-me a seus mistérios e seus temores.
O brotar do verbo das entranhas
estranhas da noite em agonia
estremece a terra úmida e fria
desta noite sem alma
incalma e nua.
Um manso grito, um triste lamento,
deflora os lábios do pensamento
e vence a inércia lingual
e explode em grunhidos
violando os ouvidos do silêncio noturno
e se perde no breu da noite inerte e fria.
 O verbo estremece,
a carne esvaece!
É o lamento da minha alma insana
na solidão em que se mergulhou, em
letárgica agonia!
Sinto na carne trêmula e faminta
o chamado do pecado...
Noite sem alma... noite fria.
O pecado me chama.
Noite sem alma... noite fria.
Alma vazia!


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

POEMA Nº 218 - SOMBRA NEBULOSA, A TUA IMAGEM. EM MIM.

Tanto
Acalanto
Tua imagem em meu peito
Que o pranto,
Desfeito
Em saudade imensa,
Não mais brota na correnteza dos olhos meus (nos teus)
Secos de mar, secos de rio,
Como terra esturricada de um sertão
Por Deus abandonado.
Tua imagem, miragem,
A confundir-se em mim, de mim,
Nevoa-se.
Dia
             Por
                         Dia
 Esta tua imagem distante...
Apaga-se...
                                     Em mim...
Oh! Tão distante, tomou-se em brumas
Levadas pelo gélido vento
Como sombra nebulosa.
Em mim...
De mim...
- O tempo passa, amor -
O tempo tem fome (e a tudo come).
Sombra nebulosa
Tua imagem
Miragem...
Meus olhos secos não mais avistam.
Tua imagem...
Miragem...
Miragem.


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

CANÇÃO Nº 087 - BLUES DA PIEDADE



Blues da Piedade
(Cazuza e Frejat)
Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas
Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia
Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Dê-lhes grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas
Que estão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça
Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade
Vamos pedir piedade...

POEMA Nº 217 - PÁSSAROS CEGOS

Sim, poeta Lorca! Somos qual pássaro cego
Pelo breu da noite licorosa
Que nos escorrega olhos a dentro.
No ventre da noite agonizam sonhos e gorjeios
Dos pássaros feridos sem amanhãs.
Sou um pássaro caído do ninho derrubado...
Senhor Deus dos desesperados
Não chegam a Vós os lamentos
Deste pássaro cego, de asas quebradas?
É um brotar de desesperanças
Arrancando a ínfima lucidez
Canto banto e tímido.
Geme o mundo, ardem as quimeras,
Choram os filhos de Gaia
Salvação, não há. Nem fim, esta tormenta.
Apenas flores despetaladas
No colo do mundo.
Pisadas.
Pássaros cegos, pássaros mudos...
Já não mais gorjeiam.
Apenas voam
Sem destinos
Sem manhãs.
Vida breu!


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet