segunda-feira, 10 de março de 2014

POEMA No 216 - EU, SÍSIFO, E A NOSSA PEDRA.

Amanheci assim
Com esta dor atávica
A apertar-me o peito
Tal mão tosca e inclemente
Tentando de todo o jeito
Arrancar-me o coração.
Esta tristeza imensa
Esta dor sem lenitivo
Não há remédio que vença
Pois é uma dor profunda
Que surge lá no fundo
Desta minha alma sem esperança.
Sou Sísifo. A pedra me cansa!





Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

POEMA No 215 - O TEMPO É UM CÁRCERE. EXISTE?

Pressagas horas, tempo de olvido
Jogo de espelhos, efêmero Tempo
(Onde não me vejo)
Livre e solto Tempo
Fortuito passatempo
Fugaz, fugidio
Indomável
Antropofágico Tempo
Comensal dos meus dias
E da minha adâmica matéria.
Água tirânica a escorrer-me
Por entre os impassíveis e lassos dedos.
Um deus todo poderoso, sois vós,
Tempo onipresente, onipotente, premente
Inconsútil Tempo, inclemente.
Prisioneira sou
Em teu cárcere de eras e horas
Onde a eternidade nada mais é
que um minuto afora.
Onde eu me perco
Debalde, longa espera,
de por fim, vencer-te.
Tempo. Existes?
Quimera!


Autoria: Lavínia Andrill
Imagem: Internet

sexta-feira, 7 de março de 2014

CANÇÃO Nº 86 - IO CHE NON VIVO SENZA TE

POEMA No. 214 - AUSÊNCIAS

Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos
Que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto
E em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser
Tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como uma nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás
E encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
Da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim
A misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações
Do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
A tua voz ausente,
A tua voz serenizada.



Autoria: Vinícius de Moraes
Imagem: Internet

terça-feira, 4 de março de 2014

POEMA No. 213 - A LÍNGUA DA NOITE...

Não! Eu hoje não acenderei as luzes de minha casa. E pedirei aos meus concidadãos que façam o mesmo! Nenhum lustre, nenhuma lâmpada, nenhum abajur, nenhum farol. Nem mesmo um candeeiro! Um “fifó” sequer hoje. Mandarei um ofício aos homens da administração municipal para que determinem não ser aceso nenhum poste. Não! Deixem vir a noite! Deixem que eu escute a voz de sua escuridão! Farei um silêncio de luzes para que sobre nós o mais completo negrume se pronuncie em sua língua de abismos insondáveis. Para que eu ouça sua fala entrecortada por brilhos de estrelas mortas. E para que entre uma frase e outra surja suspenso o luar como um pensamento que se tem antes de dizer algo... É preciso aprender a falar a língua da noite para dialogar com as nossas sombras!


Autoria : Jarbas Bittencourt
Imagem: Internet