sexta-feira, 7 de março de 2014

POEMA No. 214 - AUSÊNCIAS

Eu deixarei que morra em mim
O desejo de amar os teus olhos
Que são doces
Porque nada te poderei dar
Senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença
É qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
Existe o teu gesto
E em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser
Tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim
Como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
Nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
Como uma nódoa do passado.
Eu deixarei… tu irás
E encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
Porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
E ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos
Da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim
A misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
Porque poderei partir
E todas as lamentações
Do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
A tua voz ausente,
A tua voz serenizada.



Autoria: Vinícius de Moraes
Imagem: Internet

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